No último mês de agosto (2022), completei 10 anos desde o meu primeiro aporte direto em ações. Minha história com investimentos é um pouco mais longa, e remonta à minha infância na década de 80, quando eu tinha uma pequena poupança, fruto de um presente de minha avó, até as minhas primeiras economias quando comecei a trabalhar em 1993. De lá para cá, em maior ou menor grau, eu sempre investi, predominantemente em renda fixa, com pequenas doses de renda variável através de fundos de ações, até 2012.
À partir de 2012, quando os juros estavam em patamares baixos, comecei a estudar mais o investimento direto em ações. Minhas primeiras aquisições de ações foram em 24/08/2012 com a compra de 86 ações BBAS3 e 59 ações VALE5. As BBAS3 eu vendi alguns meses depois e as ações da Vale (convertidas para VALE3 em algum momento) eu mantenho em carteira até hoje.
Neste período, a carteira cresceu para as atuais 18 ações e eu fiz, religiosamente, pelo menos duas compras de ações mensais, considerando novos aportes e reinvestimentos de proventos. Poucas foram as vendas e sempre aportei mais do que retirei em cada mês.
Como todo investidor em ações, passei por alguns meses de deslumbramento no início em que achava que poderia ficar rico com trades, achando que era fácil comprar na baixa e vender na alta, mas descobri na prática que isso é muito difícil, de modo que os poucos gênios que sabem a fórmula podem ficar ricos, mas a grande maioria dos investidores traders vai morrer pelo caminho, tentando. Deste modo, com muita leitura e estudos, abandonei a parcela da carteira de trades e mantive somente uma carteira Buy & Hold de ações.
Nestes 10 anos, passei por períodos bem difíceis, como os primeiros 5 anos com rentabilidade negativa, passei também por períodos de bonança, como o triênio 2017-2019, em que vi resultados muito expressivos e a carteira subindo como um foguete, e ainda passei pelo momento mais desesperador que foi a sequência de quedas na pandemia de fevereiro a maio de 2020.
Assumo que em todos estes momentos eu fui tomado por forte emoção, tanto de alegria como de desespero, mas consegui superar sem muitas consequências graves, mantendo os aportes todos os meses e sem alterar a composição da carteira em decorrência do humor do mercado. Pelo contrário, tive até certo discernimento para aportar mais nos momentos de baixa do mercado e reduzir os aportes na euforia da alta.
Atualmente a minha carteira é bem diversificada, com cerca de 25% do capital em RV (ações), 60% em Renda Fixa, sendo metade em pré-fixado e metade em pós-fixado, e o restante, cerca de 15%, em investimentos internacionais, sendo a maior parte em ETFs através de corretora no exterior.
Listo aqui 10 lições que aprendi neste período de 10 anos investindo em ações:
1) Preço não importa: Esta polêmica frase já deu muita discussão na blogosfera, e continua dando o que falar. Ela é polêmica porque obviamente a rentabilidade virá de algo que você comprou a algum preço e ele valorizou, mas a essência desta frase é que, mais importante que tentar descobrir uma empresa a preço atrativo, é encontrar as melhores empresas mercado. Para uma estratégia de Buy & Hold, é mais importante encontrar empresas sólidas com perspectiva de crescimento no longo prazo e que você pretende ser sócio por toda a vida. De forma simplista e bastante lógica, é melhor comprar uma ação “cara” que multiplique por 10x em 20 anos do que uma ação “barata” que multiplique por 3x em 1 ano e depois fique de lado por pelos outros 9 anos. O desafio está em escolher as empresas vencedoras no longo prazo, daí a frase que “preço não importa”.
Há ainda uma outra questão importante a ser ressaltada, que esta frase é ainda mais forte quando você pratica aportes periódicos, uma vez que você vai comprar a empresa a vários preços, supostamente barata umas vezes e em outras ela estará cara. Os aportes periódicos cuidam para que você estabeleça uma média dos preços dos últimos anos, o que na prática é próximo do quanto a empresa deveria valer durante o período. Para quem faz aportes grandes, de uma única vez, o preço é importante, mas o risco também se torna muito elevado, o que não combina com minha estratégia de investimento.
2) Eu só submeto ordem de compra a valor de mercado. Nos primeiros anos, as minhas ordens eram com valor exato, e ficava tentando economizar 1 ou 2 centavos por ação. O problema é que as vezes uma ordem ficava pendente, total ou parcialmente, por causa de 1 ou poucos centavos, me gerando mais trabalho. Como eu compro ações com bastante liquidez e meu investimento é no longuíssimo prazo, se vou pagar 1 centavo a mais ou a menos, acredito que não fará diferença. Minha estratégia atual é: decido a ação que vou comprar e a quantidade, coloco a ordem à valor de mercado, pego o preço médio de execução e lanço na planilha.
3) Eu não vendo mais nada, exceto em casos específicos como fechamento de capital. Tive experiências no passado em que vendi ação porque subiu muito, ou porque a empresa começou a ir mal, etc. Na maioria das vezes eu me dei mal, a empresa que “subiu muito” continuou subindo e a que estava mal, se recuperou de alguma maneira. No momento eu só me desfaço de ações se a empresa fechar o capital (aí não tem opção). Em caso de venda, fusão, etc, eu reavalio a situação e posso diminuir a posição, mas é mais fácil colocar em quarentena e parar de comprar do que vender. Se a empresa ficar ruim, vai ficar na carteira, sem novos aportes, até sumir ou melhorar.
4) Eu compro baseado em método de alocação de ativos. Coloco um percentual objetivo para cada ação (atualmente o percentual é igual para todas as ações “ativas”, portanto exceto as em quarentena) e compro aquela que a planilha manda. Tento não comprar 2 meses seguidos ou dar uma pausa nas compras de pelo menos 3 meses, mas não é uma regra mandatória. O método de alocação de ativo sem rebalanceamento me parece eficiente por retirar boa parte da emoção no momento da decisão de compra.
5) Eu gosto de receber dividendos mas não estou nem aí pra eles. Receber dividendos é bom e satisfatório, pois você fica com a percepção de que sua maquininha de geração de renda está funcionando, mas na prática, nestes 10 anos, não houve qualquer diferença significativa na rentabilidade considerando ações de empresas que pagam mais ou menos dividendos, deste modo, o quanto uma empresa paga de dividendos não influencia minha decisão para escolha de empresas e ações.
6) Pouca gente entende realmente sobre investimento em ações, portanto o melhor a fazer e não deixar as pessoas saberem que você investe em ações. As pessoas não entendem e criam diversas teorias sobre o mercado, querendo julgar suas atitudes. Se me perguntam o que acho sobre investimento em ações, eu simplesmente digo que não entendo nada, já tentei mas achei muito arriscado.
7) Rentabilidade de carteira e acompanhamento do mercado não servem para nada além de perda de tempo e satisfação pessoal. Este item é um dos mais complicados, pois eu ainda perco muito tempo olhando mercado e acompanhando a movimentação ao longo do dia, é quase um video-game da vida real, mas se pensar de forma prática, 1 hora acompanhando o mercado geram menos valor que uma hora trabalhando ou mesmo estudando. Cada dia eu tento me afastar mais do mercado, mas ainda tenho alguma dificuldade
8) Tem mais picaretas no Youtube que gente séria. A maioria do que é falado pelos influencers sobre investimentos em ações, sobretudo os mais famosinhos, é bobagem e não se aplica para o pequeno investidor. Na minha visão Primo Rico, Louise Barsi, Nathalia Arcuri (Me Poupe), Charles Wicz, dentre outros, não tem muito a acrescentar para quem tem um mínimo de experiência em bolsa, e ainda pagam de mestres do mercado. Tenho a impressão que não passam de bons marqueteiros. Não vou entrar nos detalhes aqui, mas me parece que todos os youtubers falam bobagens em maior ou menor grau. Obviamente há conteúdo bom e sério, mesmo assim muita bobagem é falada na maioria das vezes. Até mesmo o Bastter fala muita bobagem, por exemplo a tara dele de considerar ETFs tão lixo como qualquer fundo de investimentos não faz muito sentido, na minha opinião. Com respeito a ETF, estou com Buffett, representam um investimento de baixo risco e baixo custo para o investidor que não quer perder tempo avaliando e se emocionando com investimento direto em ações.
9) Aportes são mais importantes que rentabilidade. A rentabilidade vai te ajudar a vencer na construção do patrimônio, mas o tamanho dos aportes é que vai determinar o patamar da sua riqueza. Conheço pessoas verdadeiramente ricas que construíram patrimônio somente na poupança ou renda fixa, outros, aportaram muito, por muito tempo (mais de 30 anos) em ações da Vale, e estão ricos. O fato é, o tamanho do aporte vai determinar o patamar de riqueza. Foque em não fazer bobagem e não colocar seu dinheiro em itens que percam valor, o resto é focar no trabalho e nos aportes pelo maior tempo possível.
10) Preocupe-se mais com segurança que com oportunidade. O mercado de ações é coisa séria, portanto a palavra oportunidade é uma das mais perigosas para o pequeno investidor. Se existe uma oportunidade em uma empresa X, porque o mercado inteiro é tonto e deixa só você, o espertão, aproveitá-la? A palavra oportunidade atrai investidores inocentes como pão picado atrai peixes na beira do lago. Os youtubers/influencers adoram, pois chama a atenção e atrai audiência. Toda vez que ouvir a palavra oportunidade, dê dois passos para trás e tente visualizar a situação de forma mais abrangente. Até existem oportunidade, mas seguramente elas estão precificadas de acordo com o risco, deste modo não encare a oportunidade como uma barbada e ganho certo, mesmo que no longo prazo. Uma empresa boa, segura e "cara" pode sim ser um melhor investimento que uma oportunidade de compra em uma empresa "barata".
Para finalizar, quero compartilhar como está minha carteira de ações:
Os papéis XPBR31 estão aí porque recebi após o desmembramento que o Itaú (ITUB4) fez com a XP em 2021. Este papel está em quarentena, então não compro, mas também não vejo necessidade de vender.
A TIR da carteira de ações nestes 10 anos está em 8,19%. Segundo meus cálculos a TIR para investimentos em CDI no período foi de 7,55%, já considerando desconto de 15% de IR, configurando portanto que a carteira teve rentabilidade de 108% do CDI.
Mesmo que nestes 10 anos o ganho não foi muito superior ao CDI, sinto-me cada vez mais confortável em afirmar que, no longo prazo (10+ anos), uma carteira de renda variável, com aportes periódicos em boas empresas, apresenta um risco relativamente controlado.
Fico feliz em compartilhar minha experiência aqui e espero poder contribuir para o amadurecimentos de investidores.
Importante:
Este material tem propósito meramente informativo. Não consiste em recomendação financeira ou estratégica para investimentos. Para saber mais sobre as opções de investimento e receber recomendações, procure uma instituição financeira com profissionais habilitados.